A pesca do Polvo no Algarve

A pesca do polvo no Algarve está fortemente enraizada na sociedade, cultura e economia locais. Ainda que regulada desde a década de 70, a relevância do polvo enquanto recurso cresceu nos últimos anos, em consequência do decréscimo dos stocks de peixe.

O Algarve, onde o polvo representa o recurso pesqueiro mais importante quer em peso quer em valor, apresenta-se como uma das regiões mais importantes de Portugal para a pesca do polvo, tendo, em 2021, representado 54% do valor de primeira venda relativamente ao resto do país.

Esta pescaria representa o meio de subsistência para muitos habitantes locais, nomeadamente para 1501 pescadores do polvo, ou trabalhadores de atividades diretamente relacionadas.

Em 2019, a frota de pequena pesca do Algarve com licença de pesca para o polvo era constituída por 358 embarcações, distribuídas por 14 portos de registo, existindo 14 associações a representar os seus interesses.

Ainda que o polvo seja capturado por artes como o arrasto e as redes de emalhar, a pequena pesca com armadilhas (covos e alcatruzes) representa a quase totalidade (90%) das capturas de polvo nesta região.

A pesca com alcatruzes (arte não iscada) foi prática quase exclusiva até aos anos 80, quando os covos (arte iscada) foram introduzidos na pescaria.

Esta pescaria segue o regulamento previsto para a restante costa portuguesa, ainda que alguns pontos, como a interdição da pesca ao polvo com covos e alcatruzes ao fim-de-semana e a proibição do uso de isco vivo (caranguejo) sejam exclusivos para o Algarve, nomeadamente na sua costa Sul.

Para além dos problemas transversais a outras pescarias, como o envelhecimento dos profissionais e a falta de modernização, junta-se nesta atividade a difícil gestão dos stocks do polvo, agravado pelas frequentes flutuações anuais no recrutamento desta espécie.

Referências bibliográficas

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